Inclusão digital: "para sonhar muitos sonhos" | |
Artigo de Nelson Pretto para o Jornal da Ciência
"Hoje é um dia para sonhar muitos sonhos. Toda vez que nós, os povos indígenas, o povo primeiro desta terra, nos encontramos é dia para celebrar e lutar". Assim inicia-se uma das duas carta emanadas da XII Oficina de Inclusão Digital e Participação Social (http://oficinainclusaodigital.org.br) que aconteceu em Brasília na semana passada.
Mais de mil participantes, vindo de todos os recantos do Brasil, estavam reunidos em mesas redondas, grupos de trabalhos e plenárias para discutir a importância das políticas públicas que garantam a todos os povos o acesso pleno ao universo da informação e da comunicação, facilitados pela expansão das tecnologias digitais.
Ao mesmo tempo, está em tramitação na Câmara dos Deputados um Projeto de Emenda Constitucional (PEC 479), que pretende incluir no artigo V da Constituição a internet como um dos direitos fundamentais do cidadão. Audiências públicas estão acontecendo em diversos Estados e este fundamental projeto encontra-se em consulta pública no portal e-democracia(http://edemocracia.camara.gov.br/), tambémé este um importante avanço no uso das tecnologias digitais para a ampliação do processo de participação democrática da população nas decisões do legislativo. No campo executivo, os portaisParticipatório (http://participatorio.juventude.gov.br/) - um espaço para a construção de políticas públicas para a juventude - e o Participa.br(http://www.participa.br) - anunciado como um espaço de escuta do governo federal, ligado diretamente à Secretaria Geral da Presidência da República - são dois outros exemplos de esforço do executivo no sentido de auscultar a população na definição das políticas governamentais.
Desta forma, vemos diversas iniciativas que buscam utilizar a internet como espaço para a inclusão social do cidadão, fortalecendo a participação social visando a construção coletiva da Nação. Justo por isso, não podemos aceitar que apenas quatro operadoras de telecomunicação consigam, como seu forte lobby, paralisar o Congresso Nacional que, desde o dia 28 de outubro passado não pode dar prosseguimento a nenhuma votação por conta do regime de urgência constitucional pedido pela Presidência da República para a votação do Projeto de Lei 2.126/11 que institui o Marco Civil da Internet. Como bem disse o sociólogo e ativista Sérgio Amadeu (http://samadeu.blogspot.com.br) num elucidativo debate no programa Brasilianas.org (http://advivo.com.br/materia-artigo/programa-discutira-a-situacao-do-marco-civil-da-internet) do último dia 2 de dezembro, isto se configura como uma plutocracia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Plutocracia) que corresponde ao "poder destas quatro empresas que detêm 8% do PIB Brasileiro". Na mesma linha, outra boa entrevista de Sérgio Amadeu sobre o Marco Civil está no Metrópolis, da TV Cultura de São Paulo (24.11.13) e pode ser vista aqui (http://tvcultura.cmais.com.br/metropolis/programas/programa-exibido-em-24-11-2013-1) (posição 22:40 s).
O tema do Marco Civil, como não podia deixar de ser, tomou conta de muitos dos debates da Oficina de Inclusão Digital e a carta final foi contundente: "Do Marco Civil da Internet esperamos que ele tenha como foco o lugar de onde ele saiu: a consulta popular e o envolvimento com a sociedade civil. Queremos neutralidade, para que não haja uma internet dos ricos e uma internet dos pobres. Queremos privacidade, para que parem de tratar nossos dados e nossa navegação como objeto de lucro e negócios. E queremos liberdade de expressão, porque somos produtores de cultura, produtores de conhecimento, e nossas comunidades sabem como deixar de ser invisíveis - e queremos compartilhar nossa produção social com toda sociedade. Queremos que de fato exista o compromisso de tratar nosso direito à comunicação como um direito humano fundamental de todo e qualquer cidadão e cidadã."
Muitas vezes o argumento usado pelas operadoras para defenderem a quebra da neutralidade da rede é que os usuários mais pobres irão pagar para que os usuários de maior poder aquisitivo possam usar a rede plenamente. Trabalham eles, como de costume, com a ideia de que os primeiros serão apenas utilizadores de e-mails e que assim devem permanecer. Pois é justo o oposto o que defendemos e por isso mesmo a neutralidade da rede é um ponto inegociável: queremos que todos, em todas as camadas sociais, sejam produtores de culturas e de conhecimentos e não simplesmente consumidores de informações. Toda a população deve fazer um uso pleno da rede, para muito mais do que somente ler meia duzia de e-mails.
É urgente termos estratégias para resolver em definitivo a situação da Banda Larga no Brasil. A situação é lamentável, chegando a situações calamitosas como a vivida pelos professores e alunos das novas universidades públicas criadas nos últimos anos, onde a conexão é totalmente insuficiente.
Visitei recentemente o Instituto Federal de Educação, Ciência e tecnologia da Bahia (IFBA) (http://www.barreiras.ifba.edu.br/), na cidade de Barreiras, para ministrar curso de pós-graduação e deparei-me com que já conhecia desde muito: todos, absolutamente todos, reclamando da qualidade dos serviços oferecidos pelas operadoras e, o pior, valendo tanto para a conexão internet como para o próprio serviço de telefonia. Manchete do jornal local "Jornal do São Francisco" do dia 17 a 24.11.13 é enfática: "Internet ou Telefonia: o que é pior?".
A implantação da rede internet no país foi, de fato, um política pública estruturada e estruturadora levada a cabo pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) nas décadas de 80 e 90 do século passado, com a participação efetiva de boa parte das universidades Federais que abrigaram em cada um dos estados da federação os chamados Pontos-de-Presença (POP) da recém criada Rede Nacional de Pesquisa (RNP). Esta rede possibilitou não só a conexão dasinstituições de pesquisa, como se constituiu no embrião da internet comercial no país.
Esta política precisa ser continuada. As novas universidade e os novos campi - com a correta política de expansão, o número de municípios atendidos por universidades passou de 114 em 2003 para 237 até o final de 2011, tendo sido criadas 14 novas universidades e mais de 100 novos campi (http://reuni.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=100&Itemid=81), precisam estar conectados em alta velocidade e, nas suas regiões se constituírem-se, como foram no passado, no embrião de novas redes locais - fortalecidas por umaTelebrás também fortalecida - com a implantação de POPs em cada uma delas, ampliando de forma significativa o backbone nacional da RNP.
Estes são uns dos maiores desafios para pensarmos em um país conectado e fortalecido científica e culturalmente.
Melhor do que eu, os índios presentes na 12ª OID deram o recado sobre a questão ao lançarem publicamente o Núcleo Indígena de Comunicação e Tecnologia de Informação Digital, que tem o objetivo de ser "uma das instâncias de conversa e decisão sobre o uso das tecnologias de comunicação e informação digital para nos, os povos indígenas."
E, mais uma vez, fizeram um chamamento para que todos possamos, junto com eles, sonhar um pouco mais:
"Parentes indígenas e não indígenas, parentes quilombolas, parentes de comunidades tradicionais de terreiro e parentes das florestas: venham sonhar juntos e assim tornar realidade a democratização das tecnologias de comunicação e informação para os povos indígenas do Brasil e, por que não? Dos povos indígenas do mundo."
O desafio foi posto: "Sonhadores e sonhadoras do mundo uni-vos!"
Link para as duas cartas
Carta dos Índios: na 12ª OID:http://oficinainclusaodigital.org.br/ultimas-novidades/manifesto-dos-sonhos
Carta final da 12ª OIB:http://oficinainclusaodigital.org.br/ultimas-novidades/carta-da-12o-oficina-de-inclusao-digital-e-participacao-social
Nelson Pretto, professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia e secretário regional da SBPC/Bahia
fonte: Jornal da Ciência
|
sexta-feira, 20 de dezembro de 2013
Inclusão digital: para sonhar muitos sonhos !
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Marcadores
Aluno Integrado 2012
(2)
Aluno Integrado 2013
(1)
banda larga
(1)
celular
(1)
chips
(1)
clima
(1)
controle
(1)
dark web
(1)
divulgação
(1)
economia compartilhada
(1)
facebook
(1)
inclusão digital
(2)
Internet
(6)
luz
(1)
marco civil
(3)
MEC
(1)
monitoramento
(1)
Monsanto
(1)
nativos digitais
(1)
REA
(1)
right elbow
(1)
sustentabilidade
(1)
tablets
(2)
TICs
(2)
trabalho infantil
(1)
twitter
(2)
UCA
(1)
Web
(1)
Nenhum comentário:
Postar um comentário