domingo, 26 de junho de 2016

A luz que tudo vê!

Luz ambiente enxerga tudo o que você faz

Luz ambiente enxerga tudo o que você faz
Usando apenas 20 sensores, o software consegue identificar movimentos sutis, como o levantar de uma mão. [Imagem: Xia Zhou Lab/Dartmouth]
Iluminação dedo-duro
Os sensores de presença e movimento e câmeras já estão por toda parte - mas agora a tecnologia de rastreamento indoor deu um passo significativo.
A equipe da professora Xia Zhou, da Universidade Darmouth, nos Estados Unidos, desenvolveu uma tecnologia que permite rastrear com precisão não apenas a presença, mas também os movimentos de uma pessoa em um ambiente.
Em vez de equipamentos especializados, como o Kinect, ou as tradicionais câmeras, a equipe usa a própria luz do ambiente, o que permite monitorar as pessoas "de forma discreta" - sem que elas percebam - em tempo real.
Segundo a equipe, entre as principais aplicações da tecnologia estão a realidade virtual, dispensando o uso de controladores, e o monitoramento de pessoas idosas ou pacientes desacompanhados.
A luz que tudo vê
Além das luzes de lâmpadas de LED no teto, a equipe usou apenas 20 fotossensores embutidos no piso, o que se mostrou suficiente para reconstruir no computador o esqueleto básico do usuário conforme ele se movimenta no ambiente.
Movimentos como levantar e abaixar os braços, andar, sentar e virar são claramente detectados. O software desenvolvido pela equipe, juntamente com a disposição dos sensores, tornou possível eliminar todas as tradicionais fontes de interferência em experimentos desse tipo, como a presença dos móveis.
"Nós estamos transformando a luz em um meio de sensoriamento onipresente que rastreia o que nós fazemos e sente como nos comportamos," disse Zhou.
"Imagine um futuro no qual a luz sabe e responde ao que fazemos. Poderemos interagir de forma natural com objetos inteligentes ao redor, como drones e eletrodomésticos inteligentes e nos divertir com jogos, usando puramente a luz ao nosso redor. Isto também pode permitir um novo paradigma no monitoramento passivo da saúde e do comportamento para promover estilos de vida saudáveis ou identificar os primeiros sintomas de certas doenças. As possibilidades são ilimitadas," entusiasma-se a pesquisadora.


     

sábado, 23 de janeiro de 2016

Seu celular foi produzido com trabalho escravo infantil?

Seu celular foi produzido com trabalho escravo infantil?

'As vitrines e anúncios das tecnologias de vanguarda contrastam com as crianças carregadas com sacos cheios de pedras e minérios expostas a sofrer danos pulmonares permanentes', aponta Anistia Internacional.
A reportagem é de Gabriela Sánchez, publicada por El Diario e reproduzida por Opera Mundi, 21-01-2016.

As dores musculares de Paul e os problemas pulmonares que tem são frequentes demais para quem tem pouco mais de 10 anos. E também os gritos ouvidos, os abusos físicos e psicológicos e as dezenas de horas de trabalho diário em uma mina. Ele recebe um dólar e meio em cada jornada de extração de cobalto, material fundamental para a fabricação de baterias que acabam sendo comercializadas por uma empresa chinesa cujos produtos, por sua vez, abastecem aVolkswagen, a Apple, a Microsoft, a Samsung ou a HP, segundo documentos aos quais a Anistia Internacional teve acesso.
Crianças realizam atividades sem proteção e sem respaldos de segurança
Foto: Anistia Internacional

Uma investigação da Anistia Internacional e da Afrewatch seguiu o rastro do cobalto obtido das minas artesanais daRepública Democrática do Congo, onde centenas de menores são explorados. A equipe de ambas as organizações perseguiu os veículos que transportam o material até os mercados onde acabam sendo comprados por empresas maiores que, por sua vez, afirmam fornecer a conhecidas multinacionais.
"Passava 24 horas ali embaixo, nos túneis. Chegava pela manhã e saía na manhã seguinte”, diz Paul, órfão de 14 anos, aos investigadores da ONG. Está trabalhando na mina desde os 12 anos, quando a escola deixou de fazer parte de sua rotina. “Minha mãe adotiva queria que eu fosse à escola, mas meu pai adotivo era contra e me explorava fazendo-me trabalhar na mina.”
Segundo a Anistia Internacional, boa parte do material resultante dos abusos sofridos por menores como Paul acaba na filial congolesa CDM, propriedade da gigante chinesa de comércio de minerais Huayou Cobalt, abastecedora de cobalto de três fabricantes de componentes de baterias de íons de lítio: duas com sede na China (Ningbo Shanshan e Tianjin Bamo) e uma na Coreia do Sul (L&F Materials), informam na Anistia. Em 2013, as três empresas compraram cobalto da Huayou Cobalt no valor de 90 milhões de dólares.
Mulheres realizam atividade de mineração artesanal
Foto: Anistia Internacional
Então, a Anistia Internacional teve acesso às listas de clientes “diretos e indiretos” dessas três empresas, e encontrou marcas reconhecidas mundialmente: AppleVolkswagenMicrosoftSamsungSony e HP.
A entidade assegura que nenhuma dessas multinacionais proporcionou dados suficientes para que pudesse verificar de modo independente de onde procede o cobalto de seus produtos. Por essa razão, concluiu que “não levam em conta os riscos para os direitos humanos”. Não podem demonstrar se a origem da bateria de seus produtos está em uma dessas minas que Mathy descreve com horror. Ela recorda os maus-tratos e extorsões por parte dos guardas da segurança da extração em 2012, quando tinha 12 anos.
Gráfico da Anistia Internacional mostra o comércio de cobalto proveniente da RDC
“Eles pediram dinheiro, mas não tínhamos. Pegaram minha amiga e a empurraram até um tanque que continha óleo diesel. Eu corri. Fui capaz de fugir. Tinha medo, escapei e me escondi, mas vi o que aconteceu. Chorei...”, relata a menor. Esse tipo de extorsão e abuso se repete em outros depoimentos apresentados no relatório da Anistia Internacional.
As condições de trabalho descritas pelos menores são análogas à escravidão. “Todas as tarefas realizadas pelascrianças nas minas as obrigam a carregar sacos pesados do mineral. As crianças afirmam levar sacos de 20 a 40 quilos”, denuncia a Anistia Internacional em seu relatório. A organização recorda que suportar essas grandes cargas de forma habitual “pode dar origem a danos a longo prazo, como deformidades articulares e ósseas, lesões nas costas ou musculares”, acrescentam.
Löic, outro menor que passou pela mina, se lembra do pó que dificultava sua respiração. “Há um montão de pó, é muito fácil pegar resfriados, e o corpo todo da gente dói”, disse o pequeno em depoimentos recolhidos pela Anistia Internacional.
Doenças pulmonares são as mais comuns entre mineradores
Foto: Anistia Internacional
“As fascinantes vitrines e anúncios das tecnologias de vanguarda contrastam nitidamente com as crianças carregadas com sacos cheios de pedras e minérios que desfilam pelos estreitos túneis escavados artificialmente, expostas a sofrer danos pulmonares permanentes”, destaca Mark Dummet, investigador da Anistia Internacional sobre Empresas e Direitos Humanos.
"Os abusos cometidos nas minas são como o dito ‘o que os olhos não veem, o coração não sente’ porque no mercado global de nossos dias os consumidores nem têm ideia das condições existentes na mina, na fábrica, na linha de montagem. Comprovamos que o cobalto é comprado sem que se façam perguntas sobre como e onde foi extraído”, sustenta Emmanuel Umpula, diretor-executivo da Afrewatch.
No Twitter, a Anistia Internacional Catalunha está fazendo uma campanha para cobrar das empresas de tecnologia um posicionamento sobre o uso de cobalto proveniente das minas artesanais da RDC. Na postagem abaixo, leitor é questionado se o aparelho de telefone inteligente que utiliza é resultante da exploração de crianças da RDC:

compartilhado de IHU

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

A profunda ligação entre a Monsanto e o Facebook

A profunda ligação entre a Monsanto e o Facebook

"O que a Monsanto faz ao empurrar as leis de Direitos de Propriedade Intelectual (IPR) referentes ao comércio de sementes, Zuckerberg está tentando fazer com a liberdade de internet da Índia. E, assim como a Monsanto, ele está prejudicando os indianos mais marginalizados", escreve Vandana Shiva, presidente da associação Navdanya International, em artigo publicado por Carta Maior, 11-01-2016.
Eis o artigo.
Enquanto a Agência Reguladora de Telecomunicações da Índia decide o futuro do programa “Free Basics”, Mark Zuckerberg está na Índia com um bilhão de rúpias, em moeda trocada, para fazer sua publicidade. O programa é uminternet.org repaginado ou, em outras palavras, um sistema em que o Facebook decide qual parte da internet compõe o pacote básico para os usuários.
Reliance, parceira indiana do Facebook na empreitada do Free Basics, é uma megacorporação indiana com interesses em telecomunicação, energia, alimentos, varejo, infraestrutura e, é claro, terras. A Reliance obteve territórios para suas torres rurais de celulares do governo da Índia e tomou terras de fazendeiros para Zonas Econômicas Especiais através de violência e golpes. Como resultado e quase sem custo, a Reliance obteve um grande público rural, semiurbano e suburbano, especialmente fazendeiros. Embora o Free Basics tenha sido banido (por enquanto), a Reliance continua oferecendo seu serviço através de suas redes.
Um ataque corporativo coletivo está em curso globalmente. Tendo já programado suas ações, veteranos de corporações americanas como Bill Gates estão se juntando à nova onda de imperialistas filantropos, que inclui Mark Zuckerberg. É incrível a semelhança nas relações públicas de Gates e Zuckerberg, perfeitamente ensaiadas, que envolvem um preparo retórico e doação de fortunas. Qualquer entidade com que os Zuckerbergs se unam para administrar os 45 bilhões de dólares investidos provavelmente vai terminar parecendo a Fundação Bill e Melinda Gates; isto é, poderosa o suficiente para influenciar negociações climáticas, apesar não serem efetivamente responsáveis por nada.
Mas o que Bill Gates e Mark Zuckerberg teriam a ganhar quando ditam os termos aos governos do mundo durante a conferência climática? "A Breakthrough Energy Coalition vai investir em ideias que podem transformar a maneira como todos nós produzimos e consumimos energia", escreveu Zuckerberg em sua página no Facebook. Era um anúncio daBreakthrough Energy Coalition de Bill Gates, um fundo privado com uma riqueza combinada de centenas de bilhões de dólares de 28 investidores que irão influenciar a forma como o mundo produz e consome energia.
Ao mesmo tempo, Gates pressiona para forçar uma agricultura dependente de insumos químicos, combustíveis fósseistransgênicos patenteados (#FossilAg) através da Aliança pela Revolução Verde na África (AGRA). Trata-se de uma tentativa de tornar fazendeiros africanos dependentes de combústiveis fósseis que deveriam ter permanecido no subsolo, além de criar uma relação de dependência com as sementes e petroquímicos da Monsanto.
95% do algodão na Índia pertence à Monsanto Bt Cotton. Em 2015, nas regiões de Punjab até Karnataka, 80% de sua plantação transgênica não vingou - isso significa que 76% dos produtores afiliados à Bt Cotton estavam sem algodão na época da colheita. Se tivessem opção, eles teriam trocado de variedade. Mas o que parece ser uma simples escolha entre sementes de algodão é na verdade a imposição de uma mesma semente Bt, comercializada por diferentes companhias com diferentes nomes, compradas por fazendeiros desesperados que tentam combinações de sementes, pesticidas, herbicidas e fungicidas - todos com nomes complexos o bastante para fazê-los se sentir inadequados - até que você não tenha nenhuma “escolha” a não ser tirar sua própria vida.
O que a Monsanto faz ao empurrar as leis de Direitos de Propriedade Intelectual (IPR) referentes ao comércio de sementes, Zuckerberg está tentando fazer com a liberdade de internet da Índia. E, assim como a Monsanto, ele está prejudicando os indianos mais marginalizados.
Free Basics irá limitar o conteúdo da internet para a grande maioria de usuários indianos. Já de início, o programa afirmou que não irá permitir conteúdos de vídeo que interfiram nos serviços (leia-se: lucros) das companhias de telecomunicações - apesar da recomendação da própria Agência Reguladora de Telecomunicações da Índia de que conteúdo em vídeo seja acessível a diferentes partes da população.
Uma vez distribuída como um serviço gratuito, o que impedirá que as companhias de telecomunicações redefinam o uso da internet para satisfazer seus próprios interesses e o de seus parceiros? Afinal, a proibição ao Free Basics não impediu que a Reliance continuasse oferecendo seus serviços para uma grande base de usuários, muitos deles fazendeiros.
Por que deveria ficar a cargo de Mark Zuckerberg decidir o que é a internet para um fazendeiro em Punjab, que acabou de perder 80% de sua colheita de algodão por conta das sementes transgênicas da Monsanto e cujos produtos químicos (que foi coagido a usar) falharam completamente? Deveria a internet permitir que ele se informasse sobre o fracasso das tecnologias de transgênicos ao redor do mundo, que apenas são mantidas através de políticas de comércio injustas, ou deveria ela apenas induzir o uso de outra molécula patenteada em sua plantação?
A ligação entre o Facebook e a Monsanto é profunda. Os 12 maiores investidores da Monsanto são os mesmos que os 12 maiores investidores no Facebook, incluindo o Grupo Vanguard. Esse grupo é um grande investidor da John Deere, a novo parceira da Monsanto em “tratores inteligentes”, o que faz com que toda a produção e consumo de alimentos, da semente à informação, permaneça sob o controle de um pequeno punhado de investidores.
Não é de surpreender que a página do Facebook “March Against Monsanto” [Marcha contra a Monsanto], um grande movimento americano a favor da regulação e rotulagem de transgênicos, foi deletada.
Recentemente a Índia tem visto uma explosão em varejo online. Desde grande corporações a pequenos empreendedores, pessoas de todo o país tem podido vender o que produzem em um mercado previamente inacessível. Artesãos tem conseguido ampliar seus negócios, fazendas tem encontrado consumidores mais próximos.
Assim como a Monsanto e suas sementes patenteadas, Zuckerberg quer não apenas uma fatia, mas toda a pizza da economia indiana, especialmente seus fazendeiros e camponeses. O que o monopólio da Monsanto sobre informações climáticas significaria para fazendeiros escravizados através de um canal do Facebook com acesso limitado a essas informações? O que isso significaria para a internet e para a democracia alimentícia?
O direito ao alimento é o direito de escolher o que desejamos comer; saber o que está na nossa comida (#LabelGMOsNOW) e escolher alimentos saborosos e nutritivos - não os poucos alimentos processados que as corporações esperam que consumamos.
O direito à internet é o direito de escolher quais espaços e mídias nós acessamos; de escolher aquilo que nos enriquece - e não aquilo que as companhias pensam que deveria ser o nosso pacote básico.
Nosso direito de conhecer o que comemos é tão essencial quanto o direito à informação, qualquer informação. Nosso direito a uma internet aberta é tão essencial à nossa democracia quanto nosso direito de estocar, trocar e vender sementes polinizadas.
No eufemismo de Orwell, o “livre” para Zuckerberg significaria “privatizado”, algo totalmente diferente de privacidade - uma palavra inclusive estranha a ele. E assim como em acordos de “livre” comércio definidos por corporações, o Free Basics significa qualquer coisa menos ‘livre” para os cidadãos. É um cerceamento de bens essenciais, que deveriam ser acessíveis ao povo, sejam eles sementes, água, informação ou internet. Os Direitos de Propriedade Intelectual da Monsanto estão para as sementes como o Free Basics está para informação.
Tratores inteligentes da John Deere, utilizados em fazendas que plantam sementes patenteadas pela Monsanto, tratadas com insumos químicos da Bayer, com informações sobre clima e solo fornecidas pela Monsanto, transmitidas ao celular do fazendeiro pela Reliance, conectadas no perfil do Facebook, em terras pertencentes ao Grupo Vanguard.
Todos os passos de todos os processos, até o ponto em que você escolhe algo da prateleira de um supermercado, serão determinados pelos interesses dos mesmos acionistas.
Que tal conversarmos sobre liberdade de escolha?
------------------------------
disponível em 
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/550796-a-profunda-ligacao-entre-a-monsanto-e-o-facebook-